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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Amor e descuido
A paixão é convulsa, temporária, esfomeada, momentânea, e mascara seus limites por ser sujeita ao deslumbramento dos encontros, descobertas e conquistas do percorrer das veredas da posse. Ela inebria, se faz verdade, mas sua linguagem turva o sentido do real.
Já o amor é de silabas límpidas, lúcido, claro. O amor não ilude. Tem bula e ritual. Nós, os amantes, é que escolhemos não perceber o não-amor ou o não-amor bastante; o amor de circunstâncias, em desequilíbrio entre os parceiros. E, assim, subjugamos o orgulho aos nossos interesses, desculpamos as desatenções, os gestos de desamor e descuido, as repartições do corpo e dos desejos, as palavras sem alma, pela permanência do ser amado.
Perdoamos a ausência de flores e dos exercícios diários de sedução e conquista, esses deliciosos minuetos de carinho, às vezes lidos como desimportantes quando ofertados, e tão doloridos quando não obtidos. Porque o amor, este que faz do parceiro a redenção de nosso imaginário, está além da perfeição da cama, da diversão das danças. Ele é a ausência do moinho das mentiras, da cobiça do sexo serial, do veneno das desconfianças, da desvalorização do encontro, seja possível ou não, eterno ou passageiro. Amar é dar significado e significância, dar conteúdo a todos os lugares comuns: atenção, proteção, zelo e doação. É ser bastante e farto. Saciar e conter. É escolher a escolha do outro como a sua própria, ou pelo menos olhar o outro antes das suas, e dar o troco do recebido como quem faz escambo.
O amor se percebe nas sutilezas, quando acontece ou deixa de existir. Os arrodeios do reconhecimento são nossa proteção das dores e do enfrentamento da nossa própria falha em se fazer amar, sem opções. Nas entrelinhas, sempre sabemos quem nos ama, pois todos os que amam padecem da mesma sina de migrar, diluir-se no outro. Tornamos-nos seu excesso.
Ao nos iludirmos, fazemo-lo achando que, de tanto, podemos amar por dois...
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